sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pendências ambientais em Marília.

PARTE 1 - Tarefas para o novo ano de 2011
Devido a abrangência do tema, ele será tratado em várias postagens.


Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes.

Poesia “Cartão de Natal” de
João Cabral de Melo Neto.




Um dos mais completos e respeitados diagnósticos da situação ambiental nos municípios paulistas é a avaliação do Programa Município Verde e Azul criado, originalmente, com o nome de Município Verde. A mudança de nome deveu-se à necessidade de incluir a preocupação estratégica com a “vertente água” como demonstra o lançamento do programa Pacto das Águas em 2009, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA), assim como o Município Verde, os dois fazendo parte de um conjunto de 21 Projetos Ambientais Estratégicos da SMA. Estranhamente, a página referente a Metas e Programas Municipais de Marília, no programa Pacto da Águas, está vazia no que toca às informações de responsabilidade do município, mas isso fica para uma futura postagem.  

Esta abrangente pesquisa da SMA, o Município Verde e Azul, é interessante por que faz um levantamento da situação ambiental, das intenções  e dos avanços reais em relação às  10 diferentes diretivas ambientais de responsabilidade da gestão pública municipal, totalizando 55 variáveis para a maioria dos 645 municípios paulistas que se inscreveram de forma voluntária.

Os municípios se inscrevem no programa e o Governo do Estado auxilia-os para que alcancem os objetivos propostos pelo Protocolo Verde de Gestão Ambiental Compartilhada. No final do ano o governo estadual faz uma avaliação dos vários quesitos de cada um das diretivas, com notas de zero a 100, publicando assim o Índice de Avaliação Ambiental (IAA).  Ver a fonte das informações em:  http://www.ambiente.sp.gov.br/municipioverdeazul/

Aqueles municípios que conseguem atingir a nota 80 são “certificados”, ou seja, recebem o certificado de “Município Verde Azul”. Isso não é apenas um diploma que certificam os municípios, um pedaço de papel para colocar na parede da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Essa certificação garante a estes municípios prioridade nas transferências de recursos das políticas ambientais do governo estadual – transferência de receita para investimento. Em 2010, do total de 645 municípios existentes em São Paulo, 614 estavam inscritos no programa e 143 foram certificados.


Corte de Paineira
na Praça Arthur Cavichioli

Neste último dia 17 de dezembro foi divulgada a terceira avaliação do programa e o município de Marília tem ficado em uma posição nada invejável em sua série histórica de notas. Ao verificarmos as diretivas separadamente, ou seja, desagregando-as em suas várias variáveis, verificamos que há alguns pontos que avançam, chegando a notas excelentes como a Educação Ambiental nas escolas do município, que é destaque desde o início nas diretivas, como também a diretiva Estrutura Ambiental. Como nada é perfeito, temos outras não tão boas como as de Arborização Urbana e Poluição do Ar - para não falarmos das duas questões históricas de nosso município que são as diretivas Esgoto Tratado e Lixo Mínimo (ver as 10 diretivas no final do texto).

Claro que o município tem interesse em chegar à nota 80 e tem feito várias ações para isso, ainda que as ações fiquem mais no nível legal do que concreto de fato. De qualquer maneira essas ações, mais superestruturais do que estruturais, são pontuadas na avaliação feita pela secretaria estadual, portanto crescem as notas.

É o caso, por exemplo, da lei de 19 de outubro de 2010, pertencente à diretiva Habitação Sustentável, que obriga as empresas participantes de licitações no município a apresentarem registro no CADMADEIRA. O CADMADEIRA é um cadastro que controla a procedência das madeiras nativas. Infelizmente essa lei ainda não está sendo aplicada como devia, pelo menos em algumas licitações pesquisadas no site de licitação da prefeitura como a tomada de preço referente à reforma do Teatro Municipal. Em pregão específico de madeira, o CADMADEIRA é citado como requisito em função de normas estabelecido por Decreto Estadual e não o municipal. A licitação referente à Reforma e Ampliação do Berçário Nossa Senhora da Glória, de dezembro de 2010, não coloca como critério de habilitação o CADMADEIRA. Não sou especialista na área, mas acredito que a obrigatoriedade do CADMADEIRA deveria estar citada nos editais de licitação em que a madeira esteja citada nos  memoriais descritivos e planilhas.

Ônibus fora do padrão quanto à emissão de poluentes
na Av. Sampaio Vidal em 04/01/2011.
Outro avanço no segundo semestre do ano passado foi o Decreto 10.355, de setembro de 2010, onde estabelece que todos veículos e máquinas passarão por avaliação ambiental (fumaça) e, os que não passarem no teste, deverão ser retirados para manutenção. Importante lei que contempla quesito constante na diretiva Poluição do Ar, mas infelizmente não aplicada, como podemos ver pela condição do ônibus pertencente à frota da Prefeitura que aparece na foto. Este ônibus tem transitado pela cidade, nestas condições, já há muito tempo, pelo menos até o dia em que foi tirada a fotografia, 04/01/2011. A condição deste veículo da prefeitura já vem de longa data e que pode ser confirmado pela impregnação do carbono do escapamento na pintura traseira.

Queimada urbana na zona norte de Marília
em 04 de junho de 2009. 
Como último exemplo, entre outros avanços, foi a retomado do conselho de meio ambiente que fora esquecido por anos, apesar de exigência em lei municipal. Mas ainda continua no limbo o Conselho da Agenda 21, também legalmente criado pela Câmara Municipal, mas, esquecido.
O conselho do meio ambiente foi empossado novamente em julho de 2010 e é formado de forma paritária, ou seja, metade de seus representantes é de instituições governamentais e, a outra metade por pessoas oriundas da sociedade civil.
Claro que, também neste caso, há algum porém. O primeiro diz respeito à forma como foi montado o conselho, sem discussão junto à sociedade. Participo do Conselho de Habitação de Marília e, neste conselho, a sociedade civil foi amplamente convocada pela imprensa. Em reunião com todos interessados foram escolhidos os integrantes da sociedade civil, democraticamente, de baixo para cima – ponto positivo para o secretário do planejamento anterior. Esperamos que a atual secretária continue com a prática da gestão democrática.
Outro exemplo de modernidade na gestão pública, com a participação da sociedade, é a forma como são selecionados os integrantes dos Comitês de Bacias Hidrográficas – no meu caso o dos Rios Aguapeí e Peixe. Neste Comitê também a sociedade se reúne a parte dos representantes do Estado e dos Municípios e escolhem, entre eles, os representantes da sociedade civil que estarão representando este segmento no biênio. 
No Conselho do Meio Ambiente de Marília (CADES) existem muitos companheiros e companheiras combativos e comprometidos com as questões ambientais, mas a forma democrática de criação do conselho não aconteceu – essa é uma questão de princípios da gestão democrática. A formação veio de cima para baixo, sem discussão com a sociedade, uma canetada do executivo. Mas não podemos reclamar, pois parece que isso é prerrogativa da gestão pública. Gestão democrática da cidade seria bem diferente!
Outra questão no tocante ao Conselho de Meio Ambiente é a publicização das suas atividades. Ou seja, para que de fato haja a participação social na gestão ambiental de Marília, as datas das reuniões, suas pautas e seus resultados devem de colocados a público, o que não é feito. Não há notícias ou convocação na imprensa local como também não há no Diário Oficial do Município. Isso após o ano de 2007 quando esqueceram do Conselho.
Iremos tratar com mais detalhes os quesitos de cada Diretiva, ou seja, no varejo, em futuros textos. Neste texto ficaremos no atacado, no macro, na síntese. Necessário esclarecer que essa análise tem o objetivo de que, a sociedade com o um todo, ao tomar conhecimento de nossa situação ambiental, tire como tarefa neste novo ano a correção de rumo das diretivas com resultados ruins para que possamos, em 2012, vivermos em uma cidade ambientalmente correta. Ainda, a meu ver não tão importante, em segundo plano, recebermos mais receitas do Governo Estadual.
Começaremos a olhar o número fechado, síntese das 55 variáveis que o programa considera importante para a qualidade de vida da população.
Na tabela abaixo temos, para os três anos do projeto, a nota fechada, a posição de Marília no Ranking estadual e o total de municípios participantes.
:
Ano
Nota  de
0 a 100
Posição no ranking
Total de municípios inscritos que enviaram seus planos de ação.
2010
55,30
Ranking 329°
614
2009
31,18
Ranking 506°
570
2008
41,78
Ranking 217°
332

É importante atentarmos para o esforço de retomada, em 2010, após a queda de 2009. No ano de 2009 o município caiu tanto na nota como no ranking e esta situação se torna mais critica quando vemos que a média das notas de todos os municípios aumentou, portanto, ficamos na contramão - enquanto a maioria crescia nós caíamos.

Já no ano de 2010, foco da nossa análise, o município se reergueu. Mas é necessário atentarmos que, se fosse nota final de uma disciplina no ensino formal, teríamos “bombado” nos anos 2008 e 2009 e, passaríamos raspando em 2010.

Como pode ser visto nas notas dos  três anos estamos flutuando em torno de uma nota 50 sendo que o limite é 100. Estávamos ruins em 2008, pioramos em 2009 e, continuamos com uma nota ruim em 2010, apesar de uma melhora modesta.

É indiscutível a importância, para o meio ambiente da população mariliense, dos resultados da gestão municipal nos municípios do nosso entorno. Isso por que, em se tratando de questões ambientais não há fronteiras políticas e geográficas - os efeitos da degradação e todos males que ela carrega não respeita fronteiras Se analisarmos, juntamente com Marília, os municípios que fazem fronteira conosco, mais o município de Garça por estar à montante dos Rios do Peixe e do Rio Tibiriçá, portanto, vetor potencial de migração de poluição através das duas bacias hidrográficas, podemos verificar que:


Município
Ano 2010
2009
2008
Álvaro de Carvalho
23,81
Não participou
Não participou
Campos Novos Paulista
70,65
75,64
46,28
Echaporã
42,79
37,97
Não participou
Garça
85,68
74,50
67,90
Getulina
39,67
63,63
Não participou
Guaimbé
52,67
54,83
Não participou
Julio Mesquita
48,50
77,69
Não participou
Marília
55,30
31,18
41,78
Ocauçu
22,97
Não participou
Não participou
Oriente
22,78
Não participou
Não participou
Pompéia
87,38
56,30
Não participou
Vera Cruz
11,97
Não participou
Não participou
Média
42,26


A partir destas notas, de Marília e do entorno, com exceção de Pompéia, Garça e Campos Novos Paulista, podemos constatar que, na maior parte de nossa região, em 9 de 12 municípios, os gestores municipais não dedicam seus esforços de gestão ao meio ambiente.

Tem se dito que Marília tem uma nota baixa em função do tamanho do município (214.742 habitantes na publicação do Diário Oficial e, posteriormente, 216.684 no final do Censo de 2010) e, aqueles que estão com melhores notas, são aqueles com pequena população e, portanto, mais fáceis de serem cuidadas pela Gestão Pública.
Isso não condiz com a realidade pois os grandes municípios tem mais  estrutura e pessoal para fazer uma boa gestão ambiental. Corrobora com essa afirmação o fato de que, estão na relação dos municípios certificados, com nota acima de 80, municípios como São Paulo (11.244.369 habitantes), Ribeirão Preto (605.114 habitantes), Santos (419.757), Santo André (673.914 habitantes), Araraquara (208.725 habitantes), Sorocaba (586.311 habitantes), São José do Rio Preto (408.435 habitantes), etc.


Para subsidiar a discussão acima  coloco abaixo os 10 primeiros colocados e suas notas.

Ranking Municípios
População no ano de 2010
Nota final
1° SANTA FÉ DO SUL
29.235
94,96
2° ANGATUBA
22.211
94,06
3° GABRIEL MONTEIRO
2.705
92,84
4° SANTA ROSA DE VITERBO
23.871
90,64
5° PIRAJU
28.489
90,48
6° NOVO HORIZONTE
36.612
89,80
7° LUIZ ANTONIO
11.286
89,64
8° SÃO MANUEL
38.390
89,27
9° BARRETOS
112.102
89,04
10° PIACATU
5.287
88,78

Como podemos observar, são várias as diretivas que são acompanhadas pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e, em cada uma delas,, são muitas as variáveis acompanhadas no decorrer do ano de 2010. Para 2011 com certeza, novas serão acrescentadas e outras retiradas. Voltaremos a tratar das análises de 2010 da SMA referentes às diretivas separadamente nos próximos textos...

As 10 diretivas são as seguintes:

Esgoto Tratado
3 variáveis
Lixo Mínimo
5 variáveis
Mata Ciliar
6 variáveis
Arborização urbana
8 variáveis
Educação ambiental
6 variáveis
Habitação sustentável
3 variáveis
Uso da água
6 variáveis.
Poluição do ar
7 variáveis
Estrutura ambiental
5 variáveis
Conselho de Meio Ambiente
6 variáveis


Saudações


domingo, 2 de janeiro de 2011

Os números, não tão bons, que estão por trás do 7º lugar conquistado por Marília no Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal – IFDM.

Ou
Socorro... não entendi nada....
            Há alguns meses que estamos sendo bombardeados por uma campanha publicitária um tanto quanto carente de concretude e deslocada da realidade. Não por ser fictícia mas por não esclarecer o todo. Falo das propagandas veiculadas pela imprensa local, TVs, Outdoor onde é apresentado o IFDM da FIRJAN - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal - que coloca Marília em merecido sétimo lugar em “desenvolvimento” no Brasil como também no Estado de São Paulo. Não querendo desviar o rumo da questão, o triste disso tudo é ver que a prefeitura cortou uma árvore de mais de 20 anos por que estava “impedindo” a visão de outdoor desta propaganda na Av Esmeralda, conforme denúncia de jornal de marília. Esse é um critério que, infelizmente, é recorrente em nosso desenvolvimento. Ver em : http://www.diariodemarilia.com.br/Noticias/90321/Prefeitura-corta-rvore-para-instalar-outdoor


Voltando para a questão principal, não que Marília não seja uma cidade dinâmica, com um forte crescimento e com uma forte economia, mas este “indicador” carrega, em seus vários componentes, números que deviam ser tratados com a mesma ênfase dada ao número síntese (7º lugar) e não escondidos como têm sido - possivelmente por desconhecimento em função de uma leitura apressada. Resgatar estes números é essencial para que não nos percamos em sonhos, deitados em berço esplêndido. 

            Jean-Louis Besson, em seu artigo  “A tentação do modo de usar” que faz parte do livro “ A Ilusão das Estatísticas”, editado pela UNESP, resume essa questão da seguinte forma: “As cifras não são nada, não valem nada sem um discurso que lhes atribua sentido. Este discurso normalmente é falacioso, sempre problemático”. É isso, a propaganda é falaciosa no momento em que não se sustenta em seus fatores condicionantes!

            Além da necessidade de se olhar com um “microscópio” para melhor entender (e aceitar) essa posição (7º lugar), devemos tomar cuidado com o discurso da propaganda - aí sim enganosa. As matérias de página inteira nos meios de comunicação colocam uma frase da economista Sonia Rocha que pode levar - e leva, intencionalmente ou não - a uma leitura equivocada fazendo parecer que tal afirmação se refere ao município de Marília enquanto a afirmação é relativa aos indicadores nacionais e não especificadamente a este ou aquele município. A frase é a seguinte "estamos, desde 2004, num período de ouro. Aos indicadores sociais, que vinham melhorando de forma sustentada, se juntaram excelentes resultados em criação de postos de trabalho, nível e distribuição de renda e formalização do emprego." (ver a entrevista dentro do contexto em: http://www.iets.org.br/article.php3?id_article=1624)

            Um exemplo do perigo de nos distanciarmos da realidade quando usamos a média é a hipotética distribuição de dois frangos assados entre duas pessoas famintas. Matematicamente o resultado “técnico” desta distribuição será a afirmação de que cada cidadão recebeu, equitativamente, um frango para acabar com sua fome e da sua família. Mas, esta resposta é uma resposta de escritório, de escrivaninha, pois a realidade pode ser bem diferente (e é) do que a média nos apresenta. Ao sairmos do escritório e nos dirigirmos à casa destes dois cidadãos podemos descobrir que, na realidade,  um deles ficou com dois frangos e o outro ficou com nenhum mas a média continua sendo um para cada pessoa, ou, ainda, podemos descobrir que nenhuns dos dois cidadãos tiveram acesso aos frangos assados e continuam, os dois, com fome - os frangos foram desviados. Hipotético... apenas para fins ilustrativos.

            Ou seja, ao lermos as médias, índices, indicadores, etc., devemos nos debruçar sobre esses números tentando identificar sua metodologia, como foi calculada e “recuperarmos as várias realidades” que levaram a esta síntese. Para um correto diagnóstico devemos fazer o caminho contrário da síntese e verificarmos “as várias determinações” da realidade, estudando as suas componentes. 

            Os números do IFDM apresentados a seguir podem ser vistos no banco de dados completo como também sua metodologia no site da FIRJAN em: http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9229431C90122A3B25FA534A2.htm.

Neste último dia do ano encontramos as seguintes informações constantes de declaração publicada no Jornal Correio Mariliense (31 de dezembro de 2010):
“Marília está no terceiro lugar em educação” comenta. Na geração de emprego, o prefeito destaca que a cidade já ocupa uma das 10 primeiras posições, além de 5º lugar na saúde. Ele comenta que a intenção é ainda melhorar mais. “Já temos uma meta com todos os secretários de melhorar em todos os aspectos para que a cidade ocupe o 6º lugar”, fala.”.

Parece, até prova em contrário, que os números citados acima estão errados possivelmente resultado de mau assessoramento. Ou, existem duas fontes diferentes da mesma pesquisa – o que não acredito.

Vamos aos números publicados e disponíveis em planilhas no site citado acima. Estes dados demonstram um constante ganho de qualidade no Emprego e Educação, uma queda na Saúde mas nenhum deles confirma a declaração da prefeitura – menos o 7º do índice que é real, mas não esclarece o seu significado.

Série histórica dos anos 2000, 2005, 2006 e 2007 do lugar de Marília
nos rankings por área no Brasil (BR) e São Paulo (SP).
Ranking

IFDM BR e SP
Emprego BR
Educação BR
Saúde BR
2000
BR
66º
819º
455º
2000
SP
56º
Não consta
Não consta
Não consta
2005
BR
13º
148º
12º
293º
2005
SP
13º
Não consta
Não consta
Não consta
2006
BR
94º
47º
285º
2006
SP
Não consta
Não consta
Não consta
2007
BR
58º
41º
329º
2007
SP
29º
39º
69º

            A primeira aproximação dos vários componentes nos mostra uma realidade não tão boa. O índice é formado por “notas” de 3 grandes temas com pesos iguais – Emprego&Renda, Saúde e Educação. A série histórica destes temas eleva Marília ao sétimo lugar a nível nacional, mas que não se repetem nos temas quando vistos isoladamente.  Colocando as notas de cada tema de todos os municípios em ordem decrescente (do maior para o menor) encontramos Marília, no ano de 2007, no ranking Brasil, o seguinte: Ranking na Saúde: 329º lugar.  Ranking na Educação: 41º lugar, Ranking no Trabalho e Renda: 58º lugar conforme tabela ac ima.

            Claro que nas áreas de Educação e Trabalho&Renda, as posições são ótimas, mas a posição da Saúde, deixa a desejar mesmo por que, perdeu pontos entre 2006 e 2007.     

            Quanto à variação das notas entre 2006 e 2007 (que são os anos aos quais os dados se referem) encontramos dados positivos e negativos. A variação diz respeito ao crescimento (ou queda) da nota de um ano para outro – dos anos  2006 para 2007 e dos anos 2000 para 2007. 

Comparando 2006 para 2007 a variação nacional do IFDM foi de 1,4% enquanto a nota de Marília ficou abaixo com 0,6%.       A nota de Emprego &Renda nacional ficou estabilizada enquanto Marília teve um crescimento positivo de 0,9%. Na questão da Saúde, nota nacional teve um  crescimento de 1,7% enquanto a nota de Marília teve um crescimento de apenas 0,3%, portanto, bem abaixo da nacional

                                   O problema é a Educação que, enquanto a nota nacional cresceu 1,7%, Marília teve um crescimento de 0,6%, também abaixo da nota média. Mas, ao vermos a variação entre os anos 2000  (primeira base do indicador) e  2007,  a que se refere a propaganda, a nota de  Marília caiu -1,4% - ou seja, pelo indicador, a  educação piorou nos 7 anos do período estudado.
 
            Ou seja, excluindo a área de emprego e renda, em todos os outros parâmetros em que o índice é construído, Marília teve um crescimento abaixo da variação nacional.

            O que de fato deixa a desejar é verificarmos não mais a posição de Marília no Ranking da síntese dos vários temas  que é o de  7º lugar . Se montarmos um ranking “das variações das notas”  entre os anos de 2006 e 2007 e também entre os anos 2000 e 2007 -que formam a série histórica do IFDM - veremos que Marília tem tido uma variação de crescimento muito medíocre em relação aos 5564 municípios. 
Ranking da variação de nota do IFDM entre 2006 e 2007
3520º lugar de 5564
Ranking da variação de nota do IFDM entre 2000 e 2007
2633º lugar de 5564
Ranking da variação de nota de Emprego&Renda entre 2006 e 2007
2420º lugar de 5564
Ranking da variação de nota de Emprego&Renda entre 2000 e 2007
786º lugar de 5564
Ranking da variação de nota da Educação entre 2006 e 2007
4438º lugar de 5564
Ranking da variação de nota da Educação entre 2000 e 2007
5330º lugar de 5564
Ranking da variação de nota da Saúde entre 2006 e 2007
3974º lugar de 5564
Ranking da variação de nota da Saúde entre 2000 e 2007
3714º lugar de 5564
           
            O que nos chama a atenção nos números acima é a variação de Emprego&Renda considerando a série histórica de do ano de 2000 para 2007 que demonstra um vigor acima da média dos municípios e, de forma muito negativa, a posição da Educação no mesmo período que já era de se esperar quando verificamos mais acima a taxa negativa de variação da nota da Educação. Partes destes números podem ser explicadas pelo fato de que é muito mais difícil para um determinado município, que já tem notas altas, crescer,  do que outros que estão mais abaixo do ranking. O interesse de levantar estes números se deve à possibilidade de que a metodologia pudesse usá-lo, e assim esclarecer como Marília chega ao 7º. Mas parece que também não me esclarece.

            Muitos devem estar se perguntando: mas como então sétimo lugar...? Também estranhei pois trabalho com indicadores já há algumas décadas (na análise mas não na sua construção) e a metodologia publicada no site da FIRJAN não me esclareceu muito. Enviei um e_mail para os técnicos da FIRJAN e a resposta também não esclareceu. Mas sinceramente, acredito que não haja erro de cálculo mas, também acredito, ao ver esses números isolados, que  talvez está não seja a metodologia mais correta para se apresentar essas variáveis e e identificar “desenvolvimento”, por isso, a necessidade da leitura em separado dos vários números (aspectos) que a formam. Além de prudente, uma leitura assim seria mais promissora.
            Na discussão metodológica encontrada no site da FIRJAN, é colocado que essa metodologia vem a ser uma opção ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M - devido à periodicidade deste último. O IDHM é calculado a partir dos dados do Censo Demográfico e, portanto, de 10 em 10 anos. No caso do IDH Brasil e por Unidades da Federação, a periodicidade é anual em função da disponibilidade de informações anuais nacionais. 

            Acredito que o IFDM não se diferencia do IDH-M apenas pela periodicidade (decenal/anual) mas tenho certeza, após esta análise,  de que medem realidades distintas. Isso pode ser constatado comparando os dados dos 10 primeiros colocados no ranking relativos ao ano 2000 do IFDM (primeiro dado da série histórica) com os dados de 2000 do IDH-M (último publicado).

            Com o podemos ver na tabela abaixo o município de Ivatuba, no Paraná, que no IFDM de 2000 estava em segundo lugar do ranking nacional se colocava, no mesmo ano de 2000 no IDH-M,na 1367 º posição. Matão que em 2000 estava em 1º no IFDM e enquanto no IDH-M ficava 447º. Na mesma seqüência Marília estava em 66 (IFDM) e 212 no ranking do IDH-M. 

Ou seja... as metodologias são incomparáveis. Cada indicador tem suas qualidades e é necessária uma análise mais apurada do significado de seus números e de suas metodologias. Os dois estão certos.... mas falam de coisas diferentes.

Município
Ranking IFDM Nacional - 2000
Ranking IDHM Nacional - 2000
IFDM 2000
IDHM, 2000
Americana (SP)
69º
0,8300
0,8400
Araraquara (SP)
130º
0,8252
0,8300
Bebedouro (SP)
236º
0,8238
0,8190
Birigui (SP)
10º
143º
0,8200
0,8290
Ivatuba (PR)
1367º
0,8368
0,7680
Jaguariúna (SP)
139º
0,8215
0,8290
Marília (SP)
66º
212º
0,7717
0,8210
Matão (SP)
447º
0,8697
0,8060
Paulínia (SP)
41º
0,8229
0,8470
Pontal (SP)
747º
0,8211
0,7920
São José do Rio Preto (SP)
96º
0,8213
0,8340

Fica assim aberta uma nova perspectiva na discussão do desenvolvimento de Marília. Não de forma simples, mas chamando o direcionamento dessa discussão para as coisas concretas dos moradores do município... procurando ver se de fato cada morador ficou com um frango assado,ou poucos moradores ficaram com muitos frangos e a maioria com nada e, quem sabe , se ninguém viu os frangos.
Saudações.